domingo, 22 de abril de 2012

As rosas que pararam de chorar

  Naquele jardim imenso existe uma vasta variedade de rosas. Uma por uma as rosas desabrocham. Umas mais cedo, outras mais tarde, mas sempre desabrocham. De dia, todas exalam um cheiro doce e encantador, de noite, porém... Depois de certo horário, naquele jardim ao menos, apenas um garoto conhecia essa realidade. Ele se escondia e se esgueirava, comia as frutas que as arvores vinham a lhe oferecer, e diferente de todos que se encantavam pelo jardim, ele não estava lá pelo aroma das flores, pois de noite elas tinham outras coisas para fazer, além de alegrar e acalmar as pessoas. Rosas são boas ouvintes, são acolhedoras e de confiança. Sempre ouvirão seus segredos sem nunca contá-los.  Todas manhãs elas amanhecem molhadas de orvalho, como costumamos dizer, e assim é com todas as rosas, de todas as cores.
  Certo dia uma nova rosa desabrochou. Ela era vermelha como sangue, vermelha como suas irmãs, para todos que a olhavam, ela era apenas mais uma rosa. Por não prestarem mais atenção nela, ela foi apenas uma rosa. Pouco a pouco as rosas passaram a amanhecer secas, com excessão de dias chuvosos, as rosas uma a uma pararam de chorar.  Pois sim, as rosas choram.
   Por que as rosas choram? Por que rosas são plantas românticas, carentes de atenção e carinho. Durante a noite, sobre a luz da lua, elas se reunem e contam para as estrelas os amores incompreendidos, elas choram confidencialmente  umas as outras, e também para o jovem do jardim. Mas misteriosamente uma a uma as rosas pararam de chorar.
    Esse fenomeno ocorreu a partir da nova rosa. Primeiro as que estavam ao seu redor, depois as que estavam ao redor das que estavam ao redor, e assim por diante até que todas as rosas foram atingidas. Das vermelhas às amarelas, das amarelas às azuis, das azuis às violetas, logo o arco-iris que era o jardim não mais chorava. Curioso, o dono da casa procurou, mas não encontrou explicação para o ocorrido, resolveu relevar como tantas outras coisas que ele relevava.
    Sabia sem saber, ele, que algum animal rondava sua casa durante a noite, comendo frutas das àrvores e arrancando rosas dos pés. Disso sabia ele, mas não supôs se tratar de um humano. Um jovem romântico qualquer que se entrertinha ouvindo as histórias das rosas, sendo confidente delas enquanto elas eram dele. E ele viu uma a uma as rosas pararem de chorar. Tal jovem não mais ia ao jardim trocar confidencias com as rosas e o dono da casa julgou que o animal havia encontrado casa melhor para sobreviver.
    As rosas continuaram lá, e o mistério foi esquecido. Ninguém a observou, nem notou que de dia aquela era a unica rosa que não exalava cheiro algum. Talvez apenas o jovem soubesse que, durante a noite, ela era a unica rosa a exalar um aroma doce e acolhedor, também a única a não chorar.

   Mas, como tantas outras histórias, isso tudo é só ficção, pois as rosas nunca param de chorar e, caso elas parassem, a rosa de aroma noturno seria a chorosa durante o dia. Misterios a parte, até que faz sentido.

Nenhum comentário:

Postar um comentário