sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Momentos decisivos

 Sabe quando as pessoas falam que existem momentos decisivos na vida que podem mudar tudo? Obviamente eles podem ser coisas pequenas. Cinco centavos achados, segurar a mão de alguém, bater em alguém, um sorriso, um olhar, uma palavra, uma letra, um número...  Qualquer coisa que façamos será um momento decisivo, sim, qualquer gesto pode mudar as nossas vidas, respirar, por exemplo. Se você decide não respirar, você desmaia/morre! Mas existem momentos decisivos que são mesmo decisivos... E que você esquece...

    E um dia lembra...

 Engraçado como as coisas vão se ligando em sua mente, como um quebra cabeça que vai se completando de uma maneira aleatória, onde uma peça pode ter contato com outras mil.

  A lembrança veio ligada à uma coisa que aconteceu hoje.

"O fato de eu não sentir nada é porque eu tenho tanta gente aos meus pés que nem tem graça"
"Mas isso não explica o fato de eu não sentir nada .-."
"Você poderia ter todos os caras se quisesse, may" ele disse, ou algo do gênero
e eu - não; e ele - sim; e eu - não; e ele - siiim; e eu - no, i can't; e ele - aham, sim sim.

   No onibus, sozinha com meu NOVO FONE DE OUVIDOO s2 caham.... sentada, observando a noite -e como eu amo a noite- eu pensei nessa frase

  Por mais que sejamos parecidos, não sei até onde somos iguais nessa parte...  Eu digo, ele sempre teve as garotinhas na palma da mão, eu só fui ouvir um elogio de verdade aos 14 anos... e depois de novo aos 16...
digo, elogios vindos de garotos, não das amigas...  Agora eu ouço, dos amigos e tals...  Mas antigamente eu não ouvia. Ele dizer isso me fez pensar que não era bem assim. As coisas de antigamente não deixam ser assim. Garotos não olham pra garota esquisita como uma garota, só como uma esquisita!

   O fato de eu 'poder' ter garotos se tornou invalida com um passado verídico onde eu definitivamente não tinha garotos. E isso me levou à lembrança de zoações e à uma que eu não me lembrava... Mesmo mesmo...

    Quantos anos eu tinha? Sete? Oito? Nove no máximo! Era Halloween... Eu estudava do lado de casa...  Dia de fantasia... E eu voltava sozinha. Voltei fantasiada (capa de bruxa e chapéu) pra casa e no caminho passei por uma escola que fica aqui na rua... E começaram a mexer comigo, claro. Pessoal mais velho rindo da cara da criancinha feliz em seu dia especial...

  O que dizer? Ela voltou pra casa, entrou e trancou a porta - na verdade, a bateu com força. A raiva fluia de seus olhos e saia em rajadas de ar de seu nariz e de sua boca. Não fazia barulhos nem gritava, não queria  ouvir os ecos de seus próprios gemidos, as vozes no modo 'repeat' já eram o suficiente. Além de que, estava sozinha, não faria diferença fazer ou não barulho.
   Jogou seu chapéu de bruxa em seu quarto, tentou desamarrar a capa, mas o nó estava cego. Cego como ela, que nada via, apenas ouvia. Não eram os primeiros a falar dela, nem seriam os ultimos a deixar palavras ecoando em sua mente... Palavras que foram trocadas pelas palavras dela. Palavras dela que preencheram a mente. Foi até o armário da cozinha em passadas rápidas e pesadas, pegou uma tesoura e seguiu até o quarto da mãe no mesmo ritmo. Parou em frente ao espelho e se olhou. Olhos vermelhos, cabelo emaranhado, nó na garganta; Levou a tesoura até o nó, suspirou e o cortou.

   "Eu vou mostrar pra eles do que eu sou capaz. Um dia eles vão ver quem eu sou... Um dia EU vou ver quem eu sou........ Porque eles não me importam. Não me importarei mais com eles, apenas provarei que não sou uma inútil, uma humana a mais no mundo."

   E com esse pensamento, a garotinha de no máximo nove anos de idade dobrou sua capa de bruxa pensando em como consertaria ela para usar no ano seguinte, e a guardou no fundo do guarda-roupa, junto da memória daquela tarde.

   Ela nunca mais ouviu o que as pessoas diziam;
   Ela passou a fazer coisas mais bizarras do que antes;
   Ela aprendeu a fazer de quase tudo;
   Ela mostrou pra si mesma de que existia para, no mínimo, alguma coisa. E os outros? Que se matem em seus trabalhos infelizes e relacionamentos falhos.

    Ela se mostrou viva, feliz, e uma colecionadora de sonhos realizados.

 

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