segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Uma mente de escritora



Palavras se espalharam pelo quarto. Sem significados, papeis recortados, tudo aleatório. Mas quão aleatório pode ser a aleatoriedade inconsciente dos fatores que desencadeiam os fatos¿ Bom, se você, assim como eu, não consegue entender a frase acima, fique feliz. Não é uma pessoa estranha, nem deve temer o que os outros pensam de você. Agora, se você, assim como eu, subconscientemente entendeu o que aquelas palavras jogadas no branco do papel queriam dizer, bem vindo ao clube de seres estranhos que as pessoas julgam....  Estranhos.

– Falar sozinha te torna estranha, na minha opinião... – disse o jovem de olhos verdes enquanto se apoiava no batente da porta encarando o chão, ou melhor, o tapete de recortes que cobria o mesmo.

– E aonde isso vai nos levar¿ – ela disse folheando revistas em busca de palavras.

– Por que você procura tanto por palavras¿ - ele disse entrando cautelosamente no quarto.

– Por que palavras são as coisas mais poderosas, livres, seguras e paradoxas que poderiam existir. – pela primeira vez no dia ela encarara o jovem. Seus olhos castanho-avermelhados reluziam como bolinhas de gude molhadas, descrição que o garoto dera usando palavras aleatórias do jeito que a jovem gostava. – Paradoxas por serem tudo aquilo e, ao mesmo tempo, todo o oposto do que elas podem ser.

    Incapaz de não pisar nas palavras ele foi até a jovem e se sentou ao seu lado. Abraçou seus joelhos e olhou para ela. O vestido rosa bebê que ela usava combinava com seus cabelos indecisos. Indecisos por começarem lisos e sem volume e terminarem em cachos bem formados, e também por ter uma cor indefinida variando de castanho à vermelho, dependendo do dia e do humor da pequena. Ela recortou mais uma palavra e a jogou ao vento. Ela planou até pousar sobre outra. O jovem apenas observava.

– Eu acho... – ele começou sem roubar a atenção da jovem. Era raro ela encarar ele mais de uma vez ao dia. Tudo se resumia em encontrar as palavras certas, nos lugares certos, e jogá-las ao vento desejando que elas caíssem nos lugares certos...  E quem julgaria onde é certo e errado para elas caírem, ou quais palavras poderiam ser erradas, e onde seriam os locais errados para encontrá-las¿ Até nisso palavras são paradoxas. Ele continuou após soltar um longo suspiro – Eu acho que você procura palavras para se sentir menos solitária. – a jovem parou de recortar ficando imóvel, apenas escutando.

  Você se tranca em seu quarto por medo de palavras que possam de ferir, e recorta essas palavras pois o máximo que elas podem atingir é a superfície de sua pele, sendo que, na verdade, tudo o que você quer é ouvir palavras de alguém que sejam verdadeiras e te deem certeza de alguma coisa. Você quer se apoiar nas palavras ditas da mesma forma que você se apoia nas recortadas... Porém com as recortadas não existe tanto medo. Elas vão estar ali, e o tempo não vai mudá-las de lugar...  Nem você, pois você tem medo de que uma palavra fora do lugar, como essa – ele disse pegando uma palavra aleatória do chão – possa mudar toda a sua vida. – ele jogou a palavra para o alto. Agora a jovem o observava aterrorizada. Ninguém nunca havia sequer ousado entrar no quarto, quanto mais mexer em suas preciosas palavras.
– Não ouse tocar em mais nenhuma palavra....
– Palavras não foram feitas para serem tocadas. Talvez escritas ou lidas, mas, e principalmente, para serem ouvidas e faladas! Como eu te amo...
     O silêncio tomou conta do local, ela lentamente se levantou e saiu do quarto. Ele foi atrás dela, segurou seu pulso e a puxou para perto, tão perto que seus narizes poderiam se encostar sem o menor esforço.
–Palavras foram feitas para serem ditas e ouvidas... Então ouça-as...  Eu te amo, e vou te amar pra sempre. Se apoie em mim, pois eu estarei sempre ao teu lado...  – ela fechou os olhos com força, como se aquilo fosse fazer com que ele desaparecesse, ou fosse fazer com que o medo desaparecesse. Ele a beijou. – Labios foram feitos para serem tocados... – ele segurou a mão dela com uma das mãos e entrelaçou seus dedos. – mãos foram feitas para serem tocadas... – com o braço livre ele abraçou a cintura ela – corpos foram feitos para serem tocados... Não palavras... – ele a beijou na testa e saiu andando.
Palavras se espalharam pelo quarto. Sem significados, papeis recortados, tudo aleatório. E tão quanto aleatório, tudo é paradoxo. “Sempre ao teu lado...” ele disse...  Porém o sempre dele acabou, e o meu pra sempre continua...  Amaria ele a mim ou a si mesmo, dizendo um para sempre que apenas o afetou¿

-Fases de uma escritora em sua mente mundana; Uma Existência Inexistente narrando Srta. MPS.

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