quarta-feira, 21 de março de 2012

Por trás dos sentidos.

- Eu tenho medo

-De que?

- Não sei

-Por quê?

- Porque eu sei.

-O que?

- O que eles pensam. O que eles sentem. Como todos são.

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- O que mais te dá pena nas pessoas?

-Sabe... Antes eu tinha pena de quem deixava seus sonhos de lado, de quem arruinava os sonhos alheios por inveja, de quem dizia que nada iria dar certo. Hoje paro pra pensar, ainda tenho dó dessas pessoas, mas ainda existem aquelas que correm atrás dos sonhos, e essas pessoas compensam a tristeza que sinto pelas outras...

- Você não sente pena deles?

-Sinto. Não tenho mais pena por aqueles que esquecem seus sonhos, na verdade tenho, mas se tratando "deles", da população em geral, eu descobri uma coisa que me da pena... E que não existe quem consiga compensar, já que são esses que tentam os que mais me dão pena.

- Explique-se.

-Entender... Quantos tentam ver atravez dos outros? Quantos realmente ligam para os sentimentos alheios? Quantos querem perceber a dor alheia, a alegria alheia, a raiva alheia? Ou quantos param para olhar os motivos, as raizes, as verdades... Os dois lados de uma situação, ou os três, quatro... Quantos pontos de vista diferentes que quando ouvidos podem te fazer chegar a uma conclusão... Ninguém vê. Se é por não querer, se é por ignorancia ou se é por egoismo, eu não sei. Mas eles me dão dó.

- São todos assim?

-São todos assim...

- E não existe quem compense?

-Existe...

- E eles também são assim?

-Talvez... Possivelmente aqueles que compensam também são assim, mas eles tem consciencia de seus atos, tanto para si mesmos quanto para os outros. Eles simplesmente sabm quando algo está errado, quando alguém está mentindo, o quanto alguém está sofrendo... Eles simplesmente entendem os dois ou mais lados de uma situação, e muitas vezes acabam não tomando parte de nenhum lado por entender ambos. Talvez aquele em que essa pessoa mais acredite. Claro que ela tem seus principios a seguir... Mas ela também deixa eles de lado, as vezes, quando vê que está errada. E isso acaba se tornando um dos principios.

- Um principio que cancela principios?

-Um principio que cancela principios...

- E por que mesmo são eles os que te dão mais pena?

-Porque eles sabem.

- Eles sabem?

-Sabem.

- E eles temem?

-Temem... Como você...

- Como eu... E como você também, não?

-Sim, como nós... Você sabe como é... Mesmo que não queira ver.
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-O que se teme?

- Perdas.

-Apenas perdas?

- Você não teme ganhar algo.

-Você teme ganhar uma doença.

- Ou teme perder sua saude.

-Mas, o que se teme?

- Perdas.

-Que podem ser ganhos?

- Depende do ponto de vista.

-De que ponto de vista?

- De quem está perdendo.

-Ou ganhando?

- Sim...

-Eu gostaria de perder peso. Portanto não temo a perda.

- Então diga você, o que se teme?

-Se teme? Se teme a perda do que se ama, o ganho do que se odeia, a perda do que se quer, do que se tem, do que quis manter. O ganho daquilo que afastou por mais tempo. O novo, o velho, a vida, a morte.

- Tudo se teme?

-Tudo é temivel.

- Mas nem tudo se teme.

-Nem tudo se teme. Nem tudo eu temo, mas se você temer tudo o que eu não temo, e eu temer tudo o que você teme, então tudo se teme.

- Ou tudo é temivel.

-Tudo é temivel.
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- O que se guarda?

-O que não se quer perder.

- O que não se quer perder?

-O que se gosta.

- E se o que você gostar não gostar de você?

-Se ele quiser ir, deve soltá-lo.

- Deve?

-Não deve?

- Eu não quero perder.

-Tem medo?

- Tenho.

-De que?

- De não saber como vai ser sem algo que eu gosto por perto.

-Então por que vai deixar que esse algo se perca?

- Porque esse algo quer se perder, e eu quero ver esse algo feliz.

-Quer ver esse algo feliz, mas se ele se perder você não vai mais ver esse algo... Portanto não saberá se ele está feliz.
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- O que é Felicidade?

-O que te faz sorrir.

- E o que te faz chorar?

-Também pode ser felicidade?

- Não pode ser felicidade?

-Também pode ser tristeza.

- Mas tem quem ache que tristeza atrai felicidade. Ou que é uma preparação, ou até mesmo uma forma de felicidade.

-O que é triste?

- A dor.

-Dor mental, psicológica e emocional?

- Exato. A dor da perda. A dor do medo. A dor do saber, e a do querer esconder e a do querer saber.

-Viver dói.

- Morrer deve doer.

-Deve doer...

- O que mais dói?

-Ver a humanidade... E ainda ter pena deles.

- Ter pena de nós dói... A pena dói.
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- O que você vê?

-Apenas o que vejo.

- Fecha os olhos para o que não quer ver?

-Talvez. Não sei o que não vejo, pois eu não vejo.

- Você vê caminhos?

-Eu procuro soluções...

- Você vê soluções?

-Eu vejo caminhos.

- Dizem que quem procura acha.

-Talvez eu tenha medo de achar.

- Soluções são temiveis?

-São, pois não se sabe se elas vão dar certo, se serão boas ou más.

- Portanto, são temiveis...

-Se você pudesse escolher o que se vê, o que veria?

- Veria o que vejo agora, porque eu escolho o que eu quero ver.

-Escolhe o que quer ver, ou o que quer pensar?
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-Pensar é dificil?

- Para alguns parece ser.

-Por quê?

- Respostas também devem ser temiveis.

-Devem ser temiveis... O que torna dificil pensar.

- Sim, torna dificil pensar. E quem não pensa, parece não ver.

-Pode ser vontade de não ver. Quem não vê não precisa pensar...

- Quem não pensa, consequentemente não precisa ver. Mas pode ver sem se preocupar.

-Sim... Só é triste dizer que tem gente que vê mas tem preguiça de pensar.

- Preguiça de pensar... Acho que isso também me dá pena.

-Da pena.

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